19.10.04

Umbigo #91

Não tenho qualquer pudor em acusar a morte de incompetência, negligência, irresponsabilidade, etc. De facto, apesar dos seus deploráveis esforços para transmitir uma imagem de respeitabilidade, a morte é incompetente. Até posso tolerar muitas coisas à morte, mas creio que me assiste o direito de lhe exigir que, pelo menos, imponha alguma disciplina aos seus fantasmas. Há várias noites que um deles não me deixa dormir, trepando pela fachada do prédio e batendo insistentemente à janela com as suas horríveis historietas desafinadas. Já tentei explicar-lhe que devia ter mais consideração por quem trabalha. Mas nada feito. A morte manifestamente não tem pulso para controlar estas extravagâncias. Estando as coisas neste pé, só me resta uma saída.