22.10.04

Post Scriptum #392

Rimbaud nasceu esta semana há 150 anos.


Rimbaud, por Sidney Nolan.

CIDADE
Arthur Rimbaud

Eu sou um cidadão efémero e mediocremente satisfeito com uma metrópole supostamente moderna porque todo o gosto antigo foi apagado no mobiliário e nas fachadas das casas, assim como no plano da cidade. não descortinaríeis aqui os sinais de qualquer monumento de superstição. A moral e a linguagem reduzidas à sua mais simples expressão!, até que enfim. Estes milhões de pessoas, que não têm necessidade de saber quem são, conduzem tão identicamente a educação, o trabalho e a velhice, que esta forma de vida deve ser várias vezes menos longa do que a que uma estatística louca aponta para os povos do continente. É assim que, da minha janela, vejo novos espectros deslizando através da eterna e espessa fumarada de carvão - o nosso sombreado das matas, a nossa noite de estio! -, vejo novas Euménides diante do meu pavilhão que é a minha pátria e todo o meu bem, pois que aqui tudo é parecido com tudo -, e vejo a Morte que não chora, nossa filha diligente e prestável, e um Amor desesperado, e um Crime interessante ganindo na rua lamacenta.

Tradução de Maria Gabriela Llansol.