18.10.04

Post Scriptum #387



POEMA VII DO CAPÍTULO "A PAIXÃO".
Odysséas Elytis

VIERAM
vestidos de "amigos"
incontáveis vezes os meus inimigos,
pisando o chão antiquíssimo.
E o chão nunca se deu com os seus calcanhares.
Trouxeram
o Sábio, o Colonizador e o Geómetra,
livros de letras e números,
toda a submissão e toda a potência,
sujeitando a luz antiquíssima.
E a luz nunca se deu com os seus lares.
Nenhuma abelha se deixou nunca levar a começar o jogo do ouro;
nenhum zéfiro, a enfunar brancos panos.
Erigiram e fundaram
nos cumes, nos vales, nos portos,
torres poderosas e moradias,
madeiros e outros navios,
as Leis, as que prescrevem as riquezas e os interesses,
aplicaram-nas segundo a regra antiquíssima.
E a regra nunca se deu com o seu pensamento.
Nunca sequer rasto de deus deixou marcas nas suas almas;
nunca sequer um olhar de fada fez menção de lhes tirar palavra.
Chegaram
vestidos de "amigos"
incontáveis vezes os meus inimigos,
ofertando dádivas antiquíssimas.
E as suas dádivas mais não eram
que ferro e fogo.
Entre os dedos abertos que esperavam
apenas armas e ferro e fogo.
Só armas e ferro e fogo.


Odysséas Elytis, Louvada Seja (Áxion Estí).
Tradução de Manuel Resende.