Post Scriptum #383
Delacroix escreve sobre Chopin:
Durante o dia, falou-me de música e isso animou-me. Perguntei-lhe o que era que estabelecia a lógica em música. Fez-me sentir o que é a harmonia e o contraponto; como a fuga é a lógica pura em música, e que compreender a arte da fuga é conhecer o elemento de toda a razão e de toda a consequência em música. Pensei em como gostaria de me instruir em tudo isto que aflige os músicos vulgares, e este sentimento deu-me uma ideia do prazer que os sábios, dignos de o serem, encontram na ciência. É que a verdadeira ciência não é aquilo que se entende vulgarmente por essa palavra, ou seja, uma parte do conhecimento diferente da arte. Não, a ciência assim concebida, demonstrada por um homem como Chopin, é a própria arte e, em contrapartida, a arte deixa então de ser aquilo que se considera vulgarmente, ou seja, uma espécie de inspiração que vem de não sei onde, que caminha ao acaso, e não apresenta senão o exterior pitoresco das coisas, para se tornar a própria razão iluminada pelo génio, mas seguindo um caminho necessário e contido por leis superiores.
Citado em "Chopin", de Jean-Jacques Eigeldinger, ed. CCB/ Público, 2004.
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