Post Scriptum #380
Sharon Olds
(E.U.A., n. 1942)
PESCANDO AO LARGO DE NOVA ESCÓCIA
De visita à terra natal do pai,
uma cultura de sangue, nessa semana as crianças
educaram-se no sangue. Largavam a linha,
largavam-na, largavam-na,
tão profundo era o mar.
Flutuávamos num pequeno dóri por cima dos
tonéis de água. Elas puxavam bruscamente a linha
do fundo, uma e outra vez,
peneirando os peixes: os anzóis esgachando-se
como agulhas de esmirna nas guelras.
Ao soltar-se a farpa, o som era como plástico
quebrando. Numa caixa de madeira
no fundo do bote, os corpos de dúctil
metal sapateavam, torcendo-se, deuses
de prata desenterrados. Quieto, peixinho,
diziam as crianças, Cala-te peixinho,
com escamas nas mãos e restos de tripa nos sapatos.
Eu brincava às mães no meio disto tudo,
a esposa da América, portanto não dizia nada,
o aço quebrando as mandíbulas cerradas,
a espessura brilhante do sangue das crianças.
Tradução de Margarida Vale de Gato.
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