O Povo é Sereno #177
TARDE PIASTE, CINÉFILO!
Tenho andado um bocado distraído com acontecimentos subsidiários ou seja nacionais e, por isso, não me debrucei ainda sobre as eleições americanas. Se calhar já não vou a tempo de fazer inflectir o sentido dos votos, mas mesmo assim não posso deixar de referir as minhas razões para entender porque se deve votar em John Kerry.
A primeira é porque acho o homem uma pessoa séria. Ninguém se tinha ainda lembrado de pôr em destaque este facto, mas aqui deixo o detalhe. Se repararem bem, mesmo quando se ri - e o gestualismo é importante, revela a alma - parece que está com a expressão do Vincent Price ou do Cristopher Lee nas películas do Roger Corman. E ao apresentar-se assim num encontro futuro com o Chirac já é meio caminho andado para meter as cabras no curral ao pretensioso francês e nem falo no Putin, com o seu estilo de Golum do "Senhor dos Anéis".
Depois, Kerry bebe limonada enquanto o seu opositor não bebe mesmo nada (o que lhe permite possuir aquele ar um pouco à maneira do Peter Lorre no "Casablanca"). Quer dizer, beberá decerto água, mas isso é um líquido que não conta e nem preciso de recorrer à memória de todos recordando que o seu vice é o Dick Cheney. Por outro lado, os membros da Al-Qaeda em particular e o Michel Moore em geral terão a ideia de que Kerry é tão pusilânime, indeciso e manipulável como o ex-presidente Carter e apanharão uma saborosa surpresa: que ele, com excepção dos carinhos à Halliburton, fará exactamente o mesmo que George W. Bush no combate contra os magnatas disfarçados de fundamentalistas, o que permitirá que o engenheiro Ben Laden (sabiam que o homem é formado?) vá de mesquita em mesquita até ao espalhanço final.
E já agora, a talhe de foice, não esquecer que o Kerry é apoiado pela Woopi Goldberg, e não sei se mesmo pelo George Clooney. Não ouviram falar, mas são dois extraordinários actores estadunidenses.
Além disso, Kerry não é o candidato do Dr. Santana Lopes nem da Cinecittá. Nem o outro, aliás, já que me chamam a atenção para isso.
E o Bush quando se desloca (vulgo andar) dá um bocado à nalga, o que não parece bem nos noticiários nacionais e fica mal nos documentários. O Kerry, mais seco de carnes, é mais controlado e tem um ar mais presidencial.
Não falando que um não é inglês e o outro também o não é. Isto parece-me o mais importante, mesmo que haja discordâncias sobre o respectivo estilo de pensamento.
Assim, será de se tirar o rabinho da cama no próximo dia 2 e ir-se votar em massa. Do Minho ao Algarve, mas também é importante que os americanos que vivem nos EUA façam o mesmo e não se desculpem com terem de ir às compras no Lidl ou no Pagapouco.
Nicolau Saião
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