30.9.04

Post Scriptum #370



Leopoldo María Panero
(Espanha, n. 1948)

SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO

Os homens do viet são tão belos quando morrem.
A água do rio, lambendo as suas pernas, fazia mais sexual
a sua ruína.
Depois vieram as Grandes Chuvas procurando
a vagina esfomeada da selva e apagaram tudo.
Ficou apenas nos lábios a sede da batalha, para nada,
como baba
que cai da boca sem cérebro.
Hoje
que num leito sem árvores nem folhas
com a tua língua desfolhas a árvore do meu sexo
e cai toda a noite o sémen como chuva
e cai toda a noite o sémen como chuva, diz-me
beijando suavemente o túnel do meu ânus,
cova de anaconda que ainda me marca
os ritmos da vida, diz-me o que era, o que é,
o que é um cadáver.

Tradução de Joaquim Manuel Magalhães.


Há muito mais Leopoldo María Panero, na Janela.