28.9.04

Post Scriptum #366



A jovem que executara o desenho tinha morrido. Saturara-se tão completamente da embriaguez da vida que pegara e um dia matara-se. Hoje em dia é moda escarnecer de semelhantes histórias. Diz-se que "as pessoas não fazem essas coisas... por alegria!" Ou um "chico-esperto" qualquer, como diria Stanley, referirá Dostoiewski... como se apenas na literatura russa, entre os génios epileptóides, encontrássemos tal... tal-chamemos-lhe assim-bravata? Mas Milka tinha agido precisamente dessa maneira. Virou o quadro. Nas costas ela escrevera a lápis: "Forsan et haec olim meminisse iuvabit." Era essa a sua ideia acerca de tudo. Onde quer que fosse, costumava apor como seu selo e assinatura esta citação do primordial agente artístico de César Augusto. Talvez pareça indelicado referi-lo, mas até tinha um dia deixado a sua assinatura na caixa do autoclismo. O som da água gorgolejante a escorrer pelos canos de esgoto - também nisso ela tinha que colocar o selo da sua aprovação: o "Forsan et haec olim meminisse iuvabit." Uma grande rapariga, Milka!

Henry Miller, Moloch.
(Tradução de J. Teixeira de Aguiar.)