7.9.04

Post Scriptum #350



José María Cumbreño
(Espanha-Cáceres, 1972)


HERCULANO

Coloquei sobre a mesa
algumas nozes e escudelas com vinho quente.
Renovei as flores
nas ânforas de barro.
Mandei acender todas as lucernas,
perfumar a câmara com aroma de incenso.
Sem demora,
pedi em voz baixa que não me incomodassem,
que ninguém me interrompesse até à alvorada.
Até que amanhecesse.

Quando os meus escravos vierem
despertar-me
e me encontrarem sentado
frente à janela.
Sentado e em silêncio.
Quando, por acaso, os meus olhos longe distinguirem
a luz de sal do novo dia,
de um dia que não irá alumiá-los,
enquanto perguntam
- meu senhor, a refeição -
quanto tardará o efeito do veneno.

(in "Las ciudades de la llanura", Editora Regional de Extremadura, 2000).

Tradução de Ruy Ventura.

Ruy Ventura tem consagrado muita da sua actividade enquanto tradutor aos novos autores espanhóis, tendo editado já uma extensa antologia pela Alma Azul.