Post Scriptum #349
No caminho de Ohrid
Recebemos de Vasco Graça Moura um poema na caixa de comentários relativa ao post Post Scriptum #345
Como sempre detestei poemas estropiados por uma apresentação deficiente, reproduzo-o aqui de novo; versa o mesmo tema do no post exposto. Preciso que o rei que, no meu, está como Simeão (nome que me foi transmitido num curso rápido sobre literatura grega da Universidade de Salónica) vem, no de Vasco da Graça Moura, como Samuel.
Creio que o nome dele é que está certo.
o caminho de ohrid
do alto das muralhas de ohrid onde
acorrera aos gritos desvairados dos vigias,
o rei samuel avistou o seu exército desfigurado,
arrastando-se entre as montanhas da macedónia.
aos catorze mil homens tinham sido
arrancados os olhos por ordem do imperador
e a um em cada cem mandara ele, basílio II,
fosse poupado um olho para conduzirem o regresso
dessa manada cega. depois de atravessarem altas neves
vinham-se agora despenhando para o lago,
tropeçando, agarrados uns aos outros,
a tortura espelhada nas contorções das faces,
o sangue a empapar-lhes os andrajos. e o rei,
tomado pela angústia, deu um grito de dor e morreu
no alto da muralha sobre a colina e os seus bosques e pomares
que o lago placidamente reflectia.
nesse instante compreendeu como era ambígua
a força cega do destino e em nenhum mosteiro
podia a iconostase explicar-lhe esse cruel mistério:
os santos, com feições dos retratos do fayoum,
entre as chamas trémulas emudeciam
nos seus frescos e as vozes dos jovens monges,
no seu canto austero e imperturbado,
elevavam uma grave primavera na penumbra.
vasco graça moura
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