O Romance da Raposa #2
UMA MANCHA NO MEIO DA BELEZA
Actualmente, as festas populares vivem um período de crise. Localizadas em terras em vias de desertificação ou de transformação profunda, estão ameaçadas pelo desaparecimento ou pela descaracterização. Há modificações inevitáveis. Há no entanto intromissões que atacam a verdade cultural de algumas delas. Já não falo da instrumentalização feita pelo poder político e económico, pois sempre aconteceu. Vale porém a pena pensar na sua relação com a promoção turística.
Existem óptimos exemplos de interacção entre a indústria do turismo e as mais variadas dimensões da identidade cultural de um local e/ou de uma região. Há no entanto um crescente número de casos em que assistimos à deturpação-manipulação de festas e rituais ou à invenção de "tradições" (como por exemplo muitas das "feiras medievais").
A busca de visibilidade mediática conduz a exageros perigosos. Nenhum mal vem ao mundo se um acontecimento cultural for apresentado nos meios de comunicação social. É contudo reprovável a promoção da vacuidade (tantas vezes com o dinheiro dos contribuintes) só porque é mediática e pode trazer os holofotes atrás.
Por esta razão me revoltei ao ver ao lado dos representantes eleitos do povo, no palanque oficial das festas de Campo Maior (como já acontecera há uns tempos em Évora), uma figura que acode pelo nome "Lili Caneças", cuja ausência de méritos é conhecida. Ligar a riqueza de uma festa popular ao vácuo não será colocar no meio da beleza uma mancha, que tudo destruirá? Há nódoas que nenhum detergente consegue eliminar...
Ruy Ventura
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