27.8.04

Post Scriptum #337



Tristan Tzara
(Roménia/França, 1896-1963)

Como prometido, aqui está a tradução (excelente, como sempre) de Nicolau Saião de um fragmento do poema "A Primeira Aventura Celeste do Senhor Antypirine", de Tristan Tzara.

O critério usado nesta tradução foi absolutamente pessoal e obviamente arbitrário. Assim, teve-se em conta não só o texto saído em "Poètes d'aujourd'hui" mas também a versão que dele nos dá René Lacôte no ensaio dedicado ao autor de "Maison Flake".

A PRIMEIRA AVENTURA CELESTE DO SENHOR ANTYPIRINE
(Fragmento)

Nós declaramos que o automóvel é um sentimento
que já nos animou em demasia na lentidão das suas abstracções
e os transatlânticos e os ruídos e as ideias. Entretanto
exteriorizamos a felicidade, buscamos a essência central
e ficamos muito contentes por a esconder. Nós não queremos
contar as janelas das maravilhosas elites, pois que Dada
não existe para ninguém e queremos que todos percebam isso mesmo
uma vez que é da varanda de Dada, garanto-vos, que se podem ouvir
as marchas militares
e descer cortando o ar como um serafim nos balneários públicos
para urinar e compreender a parábola.
Dada não é loucura, nem sabedoria, nem ironia - olha para cá
a ver se me vês
gentil burguês.
A Arte era um jogo, uma noz, as criancinhas
juntavam as palavras com um guiso na ponta e depois choravam
gritavam a estrofe e calçavam-lhe botinhas de boneca e a estrofe
transformava-se em rainha para morrer um bocadinho
e a rainha transformava-se numa baleia e as crianças corriam
corriam até perder o fôlego.

Então chegaram os grandes embaixadores do sentimento
gritando historicamente em coro
psicologia psicologia ia ia
Ciência Ciência Ciência
viva a França!
Nós não somos ingénuos
nós somos sucessivos
nós não somos o contrário de exclusivos
de certeza que não somos simples
e sabemos perfeitamente discutir a inteligência.

Mas nós, Dada, nós não somos da sua opinião
visto a Arte ser uma coisa pouco séria
asseguro-vos
e se vos apontamos o Sul e o crime
para dizer empanturradamente ventilador
arte negra e sem humanidade
é para que o prazer vos sufoque
queridos ouvintes
amo-vos tanto tanto
asseguro-vos
e adoro-vos.

Tradução e nota de Nicolau Saião.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

MY LITTLE PONY?

4:10 da tarde  

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