13.8.04

Post Scriptum #321



O CORAÇÃO DA LUZ

Sandra Mercedes Espósito... O nome se calhar não vos diz nada. É natural. Nem a mim me dizia até há dois dias, altura em que me enviaram o novo número da "Agulha", a revista interactiva brasileira em que o Floriano Martins (sim, o poeta de "Alma em Chamas"), o Cláudio Willer (pois, o presidente da Un. Bras. de Escritores) e o Soares Feitosa (claro, o do "Jornal de Poesia") são timoneiros para gosto de todos nós. Para gosto e para proveito, que a revista interactiva a que me reporto dá-nos sempre motivos de júbilo interior e exterior, por cima e pelos lados, ao sol e à sombra - como nas grandes adesões dum coração que brilhe.
Mas o nome a que me reporto corresponde a uma fotógrafa argentina que não se fica pela questão dos retratos - que por si só já seriam matéria de muito amar. No número 40 da revista, acabadinho de sair - vão ler com desvelo, não se arrependerão - apresenta-se com um textão sobre Mikhail Bulgakov que nos faz ficar felizes por três quinze dias. É sobre o cómico na obra do grande autor de, entre outras obras de referência, "Margarita e o Mestre" e "Coração de cão".
Mediante um discurso fluido, inteligente e muito informado, a autora mostra-nos como se organizava a ironia, o humor e o cómico por extenso nos livros daquele homem que dizia necessitar da prosa romanesca e da prosa teatral como um pianista precisa das duas mãos. O grande Bulgakov, cujas paredes da escadaria da casa onde residiu - na Sadovaya e que lhe serviu para encenar o apartamento encantado onde Margarita, rainha por uma noite, preside ao grande baile da Primavera - eram nos tempos do totalitarismo cobertas por inscrições e por pedidos e gritos de alma: "Woland, incendeia a minha universidade!", "Azazelo, livra-me dum chefe fascista!", "Margarita, ajuda-me a descobrir a minha amada!", "Fagot, leva-me a Paris!".
O alvitre aqui fica. E ainda por cima o Quartzo agora tem ligações com a "Agulha". É só clicarem - e entrarem num mundo onde palpita o coração da luz.
E adeus por mais uns dias, que vou para a segunda parte de umas fériazitas alentejanas...


Nicolau Saião