4.8.04

Post Perlimpimpim #2

Quero dizer, se houver alguém que esteja para me aturar. Sei que há coisas muito aborrecidas que é difícil explicar, e já começa a chatear-me ter que resumir tudo em meia dúzia de bytes ou até bits. O que se passou (isto é, resumir) com um post sobre os médicos.

Na caixa dos comentários insurgiu-se o João Luís Barreto Guimarães, se calhar pensando que eu estava a ter algum ataque de santanismo populista e que queria insinuar que os médicos são uns gatunos diplomados, como diz certa besta, que ainda por cima me acha intimista e chato. Ora essa besta pode ir passear, mais a interpretação que deu ao post.

Nada disso. É toda a sociedade portuguesa que está distorcida por demais, mesmo para um regime capitalista, digamos, entre aspas, porra, "normal". Passo a citar Agostinho Silva, que foi presidente da Confederação Portuguesa de Quadros Técnicos e Científicos Portugueses ao longo dos últimos treze anos, o qual disserta sobre a discrepância entre os baixos salários e os altos salários da seguinte forma:

"Sim. E essa discrepância é muito maior em Portugal do que noutros países, inclusivamente os mais desenvolvidos. O salário mínimo nacional, por exemplo, é um terço ou um quarto do praticado em França, mas o presidente de uma empresa como os Correios recebe mais ou menos o equivalente ao seu congénere português."

Pergunta ingénua: o que é que têm os gestores portugueses, que merecem tanto Lamborghini? Descobriram a pólvora? Não. Ao menos o caminho marítimo para a Índia? Poxa, não. Isso foi o Vasco da Gama.

Tudo isto me faz lembrar Hannah Arendt, que, como muitos outros refugiados da II Guerra, passou por Portugal a caminho dos EUA. Dizia ela, não sei onde, que, salvo o povo e os aristocratas, nunca tinha visto sociedade mais americana. E é mesmo isso, basta ver os/as apresentadores/as do telejornal, ou a Merche Romero...

Continuo? Não. Apetece-me deitar-me ao rio, a ver se flutuo.