27.8.04

Post Moderno #1

Estou aqui a traduzir a "Santa Joana dos Matadouros" de Bertolt Brecht, com a RTP a passar em fundo "A Menina da Rádio".

Distraidamente, vejo uma cena em que António Silva explica ao merceeiro, ao cangalheiro e a outros eiros do bairro, que são contra os modernismos, quão fino é fazer publicidade na rádio e quanto isso vai favorecer os seus deles negócios. Agradeço ao teletexto para os surdos, porque tenho o som cortado.

Que grande parábola involuntária, este filme de Arthur (isso mesmo com antiquado "h") Duarte!

Foram os surrealistas que mostraram como o que se quer muito moderno rapidamente se antiqua (daí um certo charme involuntário), e como o antigo tantas vezes perdura.

Mas isto é demais. A rádio, que surgiu nos anos 20 nos EU com a mesma força, os mesmos mitos e os mesmos tiques da Internet nos anos 90 (a mesma loucura bolsista, as universidades por rádio, uma nova economia, etc.), surge-nos em Portugal 20 anos depois. E quem cativa ela na altura, por interposto cinema? O merceeiro de bairro!

Ah, grande classe média, que te moldas a tudo, minha magana! Motor do nosso progresso, heroína barriguda ou slender, merceeira ou jet set, da nossa modernidade! Deus te proteja e todos os regimes!