Vai no Batalha #23 1/2
Sim, sim. Li o post do Rui Lage e sinto que estou a milhas da convivência social mais elementar. Preciso de me agarrar já às calças para não voar para Marte e ser lá apanhado nos binóculos do abrupto personagem, que gosta de andar por lá, por Marte.
De acordo, será difícil no norte, nas serras do norte, para as famílias exauridas, cortar galhos, urzes, giestas, tojos, etc. Aqui no Ribatejo, porém, onde estou, custa seis contos a hora de tractor, embora, é certo, admito, haja sítios, mesmo aqui, onde a ida do tractor é problemática. Mas, mesmo assim, vejam bem, seis contos a hora (isto é, uns 24 contos por hectare, vá, por ano), aqui, não é muito, não é desastroso. Pois olhem que estou num terreno rodeado por charneca maninha (maninha não quer dizer daninha, no meu calão), sempre à espera de que venha lá o fogo (já vi dois a coisa de 1 km, embora não este ano). Está bem isto?
Uma das causas do meu mal-estar. Garanto-vos que sem um bocadinho de alegria não se vive, e nos tempos que correm, a alegria é mais difícil de encontrar do que a "mão-de-obra disponível" do Rui.
Por falar em "mão-de-obra disponível", como me soa esquisita essa expressão! Para mim, o problema é outro, diferente. A ver se me explico: aqui há umas décadas, sem máquinas, o mato era roçado e reciclado como estrume, nas camas dos animais. "Mão-de-obra disponível"? Não, havia apenas uma relação com a terra mais "natural" (perdoem-me esta expressão, era a que estava mais à mão), isto é, havia gente nos campos.
Gente, não "mão-de-obra disponível". Aqui no Ribatejo, nas bermas da cintura industrial de Lisboa, ainda há gente no campo, operários em exercício, operários reformados, operários pré-reformados, que se lembram dos pais e cultivam os seus talhões. O senhor que veio cá, ao meu terreno, para limpar o mato, trabalha numa casa de pneus nas horas normais e às horas perdidas na horta e faz biscates para os outros.
Já me estou a perder. Se é certo que no interior mais interior não há gente que chegue, então é de perguntar que caminhos andámos a trilhar. A agricultura que se rege apenas pelos custos de produção e de mercado, não atende à necessidade de restituir à terra o que se lhe tirou, e também não atende à necessidade de manter condições sustentáveis de habitat humano.
O problema então seria o de desenvolver uma agro-floresta que permitisse aos humanos uma vida digna. Para isso, os humanos têm de deixar de encarar a terra apenas como fonte de rendimentos e de lucro, mas sim, como um "ser" com vida, de vida. Desconfio que não é possível em regime capitalista.
Já imaginaram que a floresta dá madeira para construção e repouso para a alma, que na floresta se podem cultivar muitas plantas alimentares, medicinais e outras, entre as árvores (não lavrando a terra, claro), que há indústrias de produção energética que se podem desenvolver a partir da agricultura, etc.? Não será então esta uma via, mais que bombeiros, polícias, exércitos, etc.?
Sei que isto é um pouco elíptico, mas foi o que se pôde arranjar.
Ah, pois, o Santana é pm, segundo a televisão. Ch!
PS: Atenção, na minha filosofia, em muitos sítios, o mato não devia precisar de ser limpo, se houvesse uma boa "gestão" do solo, porque entre as árvores se cultivariam constantemente outras plantas: simplesmente, não haveria mato. Por outro lado, onde se limpasse, haveria que estudar outras possibilidades de aproveitamento e não a simples queima ou enterramento. Note-se que não percebo quase nada de agricultura, que estou a dar os meus primeiros passos. Portanto, admito que esteja a dizer alguma ou bastantes asneiras. Mas é com boa intenção.
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