Umbigo #54
IRENE, JOLMAR & COMPANHIA
Têm-se tornado quase gente do meu lidar estes e outros que, pelos melhores motivos, procuram nobremente beneficiar-me das mais diversas maneiras.
Neste tempo de governos caracoleantes na "silly season", de fogos que nos perturbam ou empolgam e de outras amenidades semelhantes, os nomes que cito - e que chegam até mim interactivamente - divertem-me e até me confortam pois sou pessoa muito agradecida a quem, não me conhecendo, busca contudo fazer de mim homem de quotidiano feliz e, presumo, de mais agradável perfil social.
Este Jolmar, que é certamente um médico prodigioso, mediante sucessivos mails alerta-me para o facto de que posso aumentar a tonelagem a certo órgão de que disponho para diferentes utilizações anatómico-fisiológicas, qual delas a mais agradável ou aliviante. E isto sem me ter observado in loco, o que diz bem da sua competência profissional, maior no entanto que o seu grau de previsão e conhecimento. Propõe-se também fornecer-me, por um preço muito em conta, pequenos utensílios muito úteis em épocas de superpovoamento. De passagem, caso não esteja interessado nesse funcional produto, negociará comigo, em moldes extremamente vantajosos, fotos de mui gratificante recorte confeccionadas nos entrepostos adequados do multirracial Brasil.
Irene - por seu turno - que deve ser uma jovem sincera e ternurenta, a atender ao que reza na sua espevitada publicidade, propõe-se ajudar-me a passar noites produtivas dum certo ponto de vista em Copacabana e se necessário em Belo Horizonte - e sem precisar de sair do quarto e sem ter de estar a jogar à bisca ou ao dominó. Não é isto dum desvelo perfeitamente comovedor?
E que dizer dos potenciais fornecedores de automóveis topo de gama ao preço da uva mijona, fenomenais casinos onde tudo é possível, especialistas honrados que me tratarão da contabilidade ou da potencial calvície com toda a competência e mansuetude? E que até me vão ensinar, se eu quiser, judo-savate com maviosas aplicações?
Obrigado Irene, obrigado Jolmar! Obrigado a tutti quanti se preocupam assim com a minha estabilidade terrena e com o bem-estar do meu agregado biológico. Há só um pequeno senão...
Por questões de cepticismo incontrolável sou um péssimo utilizador de gestos samaritanos de tão poderoso quilate.
E, ainda por cima, o meu erário é mais ou menos tão pouco solvente como o do nosso bíblico velho amigo Job...
Nicolau Saião
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