29.6.04

Post Scriptum # 281



Arthur Rimbaud
(França, 1854-91)

Coração meu o que são para nós os lençóis de sangue
E de brasa, e mil homicídios, e os longos brados
De raiva, soluços de todo o inferno destronando
O Estabelecido; e ainda, por cima dos destroços,

O Aquilão; e toda a vingança? Nada!... Mas não,
Nós queremos ainda tudo! Industriais, príncipes, senados:
Perecei!, pujança, justiça, história: venha tudo abaixo!
Tudo isso nos é devido. O sangue!, o sangue!, a chama dourada!

Tudo para a guerra da vingança, tudo para o terror,
Espírito meu! Há que mexer na ferida: Ah, ide-vos,
Repúblicas deste mundo! Basta de imperadores,
De regimentos, de colonos, basta de povos, basta!

Quem, senão nós, revolveria os turbilhões do fogo
Furibundo, e aqueles que nós imaginamos, irmãos?
Vamos a isso, romanescos amigos - vamos ter um gozo
Danado. Ó tropéis de fogo, chamais a isto trabalho?

Europa, Ásia, América, desaparecei do mapa.
A nossa marcha vigorosa ocupou todas as partes,
Urbes e agros! - Seremos obviamente vencidos!
Os vulcões vão explodir! E o Oceano apanhado em cheio!...

Oh!, meus amigos! - Coração meu, tenho a certeza, são irmãos:
Negros incógnitos, se nos fôssemos! Vamos!, vamos a isso!
Ó destruição! Já me sinto fremente, a velha terra cede,
Sobre mim, sinto cada vez mais que vos pertenço, a terra funde.

Não é nada! Contai comigo!, contai comigo!, sempre.

Tradução de Maria Gabriela Llansol.