Post Scriptum # 278
VIAJAR COM O VICENTE
A mais bela reflexão sobre "a viagem" não a fez o tal político que deu duas vezes a volta ao planeta sem sair do escritório. Nem o tal escritor de sucesso que faz viagens - que horror! - para depois escrever buques que os interessados e os artolas irão consumir regalados. Nem sequer o estimável Xavier de Maistre, com o seu "Voyage au tour de ma chambre" que nos compraz e nos excita pela evidente convicção e o eficaz discurso literário.
De facto, quem me parece ter feito a tal superlativa reflexão que em 9 páginas arruma de vez a questão, foi mesmo Vicente Blasco Ibañez - e de que maneira inteligente, criativa, realmente lúcida e poética! Exacto, o mesmo autor de "Os 4 cavaleiros do Apocalipse", de "Sangue e arena" cinematograficamente protagonizado por um Tyrone Power novinho pero todo un hombre - o outro, em fita, tinha por lá o Glenn Ford, a Ingrid Thulin, o Charles Boyer...
O livro - "A volta ao mundo" (3 volumes) - foi publicado em Espanha, na França, nos E.U.A. faz este mês precisamente 80 anos. É pois um livro velho - como se tivesse sido escrito agora mesmo. Leiam as páginas sobre Nova Iorque, sobre a China, sobre as ilhas perdidas do Pacífico e depois venham falar comigo. Sujeito de razão e coração este Ibañez e ainda por cima um democrata de antes quebrar que torcer.
Se não encontrarem nos escaparates (saiu por cá na Liv. Peninsular Editora, em bela tradução de Agostinho Fortes) ameacem o editor de lhe ferrarem um tiro caso não reedite. Nunca uma doce ameaça faria tanto sentido.
Recomenda-se aos aventureiros/as e a todos os que souberam conservar o seu vibrante coração de criança.
Nicolau Saião
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