O Povo é Sereno # 117
PERGUNTEM À ALICE
"Alice - A questão está em saber o que é que queremos que as palavras signifiquem!
Humpty Dumpty - A questão está em saber quem é que manda"
in "Alice no outro lado do espelho"
Esta Alice também era fresca! Num país um pouco menos democrático que o nosso concerteza andaria vigiada ou, pelo menos, com rédea bastante curta.
Porque a sabia toda... Talvez por causa daquela brincadeira de comer um pedacinho de cogumelo e ficar grande, comer outro pedacinho e ficar pequena, tinha a experiência do alfa e do ómega e não lhe faziam o ninho atrás da orelha. Sabia o que queria e para onde ia, como o excelente botas de Santa Comba.
Aqui há dias, mediante a bela invenção que é a Net, um correspondente que decerto apanhou o meu e-mail numa coluna que mantenho num jornal teve o gosto de me escrever - e usa um nome bem sugestivo.
A seu ver, nos meus escritos pelos diversos lugares onde estaciono literariamente eu empregaria muito calão (?) e também parece que utilizo uma sistemática irrisão contra os que foram eleitos pela vontade do povo, como refere com verdade. E, finalmente, que eu não seria um cronista a valer porque falo a brincar (sic) de coisas muito sérias, percebendo-se porém ? e vou citá-lo, demonstrando que não é totalmente atoleimado - "a sua vontade de deitar abaixo as instituições democráticas". (Democráticas, para este grave cidadão, deve querer significar o regime barrosista ou portasista).
Talvez seja verdade mas quanto ao calão só acentuo que eu sou um menino de coro ao pé do Perez-Reverte (o das crónicas "Carta de Corso" do "El Semanal") e, no que respeita ao estrangeiro, podia citar-lhe um ror de cronistas que me deixam a grande distância... vernácula.
No que ao resto diz parte, apenas recordo que nos tempos de Baudelaire (um conhecido bêbado e boémio) quem os correspondentes consideravam gente séria eram pessoas como o Bouguereau e o Cabanel, que hoje jazem serenamente nas caves do Louvre. Por último, relembro-lhe que é constitucional a intenção e a vontade de "deitar abaixo" os governos, porque em democracia não existem actos literários subversivos.
Charles: anda daí tomar um absinto!
Nicolau Saião
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