27.5.04

Post Scriptum # 243



Falavam as duas amigas:
- Para quê andar com tantas seduções? Com muitas seduções [os homens] assustam-se... Parecia que íamos enforcá-los com os nossos cabelos compridos - dizia Marien.
- Mas acreditas mesmo que eles temem a serpente da nossa trança? - expunha Sophie.
- Claro que sim... Julgavam-na a serpente do paraíso... Nós assustámos-los. Tem de se entrar na batalha com eles e fazê-los saber que temos a silhueta dos seus amiguinhos, e além disso, temos o que eles não têm...
Sophie riu-se com vontade e depois disse do alto da sua opulência de mulher de exuberância e macieza ostentosas:
- Mas não compreendes que eu não posso dissimular que sou mulher?
Realmente a macia e opulenta Sophie não podia dissimular a sua feminilidade.
- Eu, se cortasse o cabelo, pareceria uma menina dessas que robusteceu e fez crescer o tifo desesperadamente...
Marien olhou-a pensativa, e depois disse:
- Tu estás bem... Tu atrais francamente os homens. Mas eu sou apenas mais uma dessa multidão de mulheres de forma esbelta e sóbria, corria mais o perigo de não ser compreendida. Assim poderei dar-lhes batalha [vestindo-me como um homem]. É tão fácil transformar-se em homem, e tão difícil ser mulher!

A Mulher Vestida de Homem
Ramón Gómez de la Serna, 6 Falsas Novelas.