24.5.04

Post Scriptum # 239

COMO NAS LIMPEZAS DA PRIMAVERA.



O mundo podia ficar bem melhor se efectuássemos umas varridelas no seu perímetro psicológico, no imaginário quotidiano, na verdade muito palpável. À guisa daquela limpeza de Primavera que mais ou menos por esta altura do ano as donas-de-casa operosas costumavam/costumam levar a efeito no "home sweet home".
Pois. E para que o dito imaginário comece a escarolar-se e a recompor-se, é preciso entre outras coisas:
- que ao princípio deixe de ser apenas o Verbo; junte-se alguma música; de preferência um pouco de flamenco
- que os egípcios deixem de andar de lado
- que o Brel largue a sujeita de vez; já não se aguenta aquele contínuo miado do "ne me quitte pas"
- e, já agora, que volte à vida, que faz muita falta nestes tempos inóspitos
- que o pão deixe pela manhã de ser comido com manteiga; o queijo de Nisa e a pasta de fígado de La Serena merecem uma oportunidade
- que a Feira do Livro do Porto se realize em Lisboa e a de Lisboa no Porto
- que os filmes lusitanos passem a ser filmados em Neptuno, com excepção dos do João Canijo e duma senhora cujo nome não me ocorre de momento
- já agora, excepcione-se também o M. de Oliveira e o Martin Scorsese apesar de não ser um homem do norte
- que o tal das escritas fenomenais (será necessário nomeá-lo?) se ponha a levitar
- que a política portuguesa seja encerrada para obras
- que os portugueses passem a ser espanhóis seis dias na semana; e que o inverso também seja verdadeiro
- que os poetas americanos finalmente consigam ser tão bons como os ingleses
- e, finalmente, que o Brel se reconcilie, mas desta vez deixe de ser titaúcha.


Nicolau Saião