O Povo é Sereno # 94
Mais uma achega, de Ruy Ventura, a propósito do concurso de docentes 2004-2005, com um dado novo que, a confirmar-se, revela até que ponto pode chegar a negligência deste Ministério da Educação.
Ao imprimir a lista do concurso de professores, tendo em vista verificar a minha graduação, reparei ontem que na capa da mesma existe uma menção curiosa: “Portugal em Acção”. Portugal em acção? Mas que acção?
Tendo em conta a dimensão dos enganos aí surgidos, estamos, pelos vistos, perante uma acção lesiva da dignidade de milhares de professores, tantos e tão bizarros os erros contidos nas listas agora publicadas, das quais dependerá a sua vida profissional, pessoal e familiar. Não vale a pena enumerar esses erros. Foram divulgados pela comunicação social com bom número de pormenores.
A gerência justiniana do Ministério da Educação promete agora refazer as listas... Antes de tomar esta decisão tratou porém de avisar os professores de que o único protesto admissível seria a reclamação escrita - ameaça velada que substancia uma rejeição do democrático usufruto e da legítima expressão do “direito à indignação”. Nada que venha a ser feito poderá devolver aos docentes deste país a tranquilidade perdida. Nem vale a pena Justino imputar a responsabilidade ao programa informático. Por detrás das teclas estão seres humanos neste caso incompetentes – de que o Ministro é a face visível. Fosse o governo uma empresa credível – e o responsável pelo que aconteceu teria sido imediatamente despedido.
P.S.: Já depois de escrito este texto, recebi de Nuno Matos Duarte o seguinte esclarecimento, que merece ser conhecido, pois revela bem a que ponto pode chegar o economicismo do governo: "Cometeu-se no processo de introdução dos dados dos professores no ‘tal programa informático’ um problema, já muito antigo, que tem sucedido também, por sistema, no processo dos “Censos”. No ano de 1991, e segundo os cálculos de um docente da FAUP, os Censos teriam uns escandalosos 40% de erro. Se pensarmos na quantidade de estudos e investigações que se baseiam naqueles dados e nas implicações dessa falta de rigor ficamos em pânico. Um dos grandes problemas deste tipo de processos em Portugal é o uso de trabalhadores não qualificados mas, pior, EXTREMAMENTE MAL PAGOS E EM CONDIÇÕES DE TRABALHO PRECÁRIO E/OU TEMPORÁRIO. Estas pessoas são normalmente contratadas pelas chamadas empresas de recrutamento que, no fundo, são empresas especializadas em fazer chantagem com pessoas que se sujeitam a um trabalho qualquer para conseguirem ganhar umas miseráveis coroas. Na sorte destas pessoas tanto pode sair a distribuição de panfletos publicitários à chuva no meio do trânsito como a introdução dos dados dos
professores num sistema informático. Foi isso que se passou: o Ministério da Educação pensou (burros) que podiam poupar dinheiro usando pessoas desesperadas por conseguirem trabalho. (...)O dito “trabalho” demorou cerca de duas semanas e foi, claro está, a contra-relógio. Segundo um familiar meu que trabalhou no processo, uma em dez pessoas tinha cuidado com o que estava a fazer. Os outros talvez preferissem estar a vender camisas na Mango do Centro Comercial Colombo. Bons trabalhos só se fazem com equipas motivadas. Máxima antiga, velha, gasta e ainda assim justíssima."
Ruy Ventura
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