23.4.04

Post Scriptum #207

O Sorriso da Gioconda

Andam os espíritos azedados a dar p’ra baixo no Dan Brown. Quem? O Dan Brown, aquele moço americano, o de “O Código Da Vinci”. Tal como tinham, antes, andando a dar p’ra baixo no Nicholas Wilcox, o autor de “A lápide templária”, que tal como o outro vos incito vivamente a esquadrinhar. Para passarem uns dias de encantamento.
E os espíritos que lhe andam a dar p’ra baixo são os duma associação que muito respeito – não vá o diabo tecê-las... – que dá pelo doce nome de Opus Dei. Vocês sabem, aquela coisinha do nosso santo Escrivá.
Mas eu conto...
O Dan Brown, com engenho e arte, escreveu um rimance que já vai quase nos dois milhões de cópias e que eu, não por acaso, merquei em Espanha. Na Páscoa, quando deitei até Sevilha e Belmonte de la Mancha, onde ainda se sentem pairar os estrépitos do nosso Cervantes e do nosso D. Quixote.
Vai daí, na volta por Badajoz, lá no sector de livraria do “Corte Inglês” onde o prestável senhor Domingos Perera me guarda as iguarias que vão aparecendo, um dos meus filhos ofereceu-me, com prestável amor filial, o livrão que degustei como devia.
E há bocado, numa revista lusitana, dei por mim a ler um enfoque sobre o mesmo – enfoque realista e onde os prantos da Opus se relanceiam com galhardia: que o rimance mete muito secretismo, que há por lá maçons que não comem criancinhas, que até se fala na sociedade secreta a que pertenceram, entre outros, Sandro Boticelli, Newton, Vítor Hugo...
E, no fim, diz-se esta coisa admirável pela caneta de um porta voz da prestimosa organização – que de acordo com os do “Grupo Milénio” não passa de um instrumento para a subida ao poder de uns quantos senhores metidos a santarrões - e que vou transcrever para gáudio de todos os que me lêem a prosa: “Demasiada invenção, demasiada maldade, demasiada perversão, ao ponto de tudo não ser, sequer, verosímil. Mas os leitores mais ingénuos podem ficar com a ideia de que a Igreja Católica e, em particular, o Vaticano e a Opus Dei, é uma instituição pouco fiável ”.
Os sublinhados são meus – e deixa cá ver se por causa deles não vou parar ao Inferno...


Nicolau Saião