Post Scriptum #202
Para abrir a manhã, o poema “Ars Poetica” de Archibald Macleish (E.U.A., 1892-1982).
Uma oferta de Amélia Pais.
ARS POETICA
Um poema deve ser palpável e mudo
como o fruto em globo.
Calado
como antigos medalhões nos dedos
Silente como a pedra gasta por mangas
em umbrais onde o musgo cresceu –
Um poema deve ser sem palavras
como o voo das aves
Um poema deve ser imóvel no tempo
como a lua sobe
Largando, como a lua solta
ramo a ramo as árvores presas na noite,
Largando, como a luz atrás do inverno larga
memória a memória, o espírito –
Um poema deve ser imóvel no tempo
como a lua sobe
Um poema deve ser igual a –
não «verdadeiro»
Porque toda a história da dor
uma porta vazia e uma folha de plátano
Porque o amor
as ervas que se curvam e duas luzes acima do mar
Um poema não deve significar
mas ser.
Tradução de Jorge de Sena.
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