20.4.04

Post Scriptum #202

Para abrir a manhã, o poema “Ars Poetica” de Archibald Macleish (E.U.A., 1892-1982).
Uma oferta de Amélia Pais.


ARS POETICA

Um poema deve ser palpável e mudo
como o fruto em globo.

Calado
como antigos medalhões nos dedos

Silente como a pedra gasta por mangas
em umbrais onde o musgo cresceu –

Um poema deve ser sem palavras
como o voo das aves

Um poema deve ser imóvel no tempo
como a lua sobe

Largando, como a lua solta
ramo a ramo as árvores presas na noite,

Largando, como a luz atrás do inverno larga
memória a memória, o espírito –

Um poema deve ser imóvel no tempo
como a lua sobe

Um poema deve ser igual a –
não «verdadeiro»

Porque toda a história da dor
uma porta vazia e uma folha de plátano

Porque o amor
as ervas que se curvam e duas luzes acima do mar

Um poema não deve significar
mas ser.


Tradução de Jorge de Sena.