15.4.04

Post Scriptum #201

Um poema de Fernando Echevarría (n. 1929), retirado de “Introdução à Filosofia”, livro de 1981 (Porto, Nova Renascença). Uma oferta de Mesquita Alves.


Memória é o nome que, na sombra, damos
à sombra em que se oculta o repentino
sem fim do nascimento, aonde estamos,
embora a sombra esconda que o cumprimos.

E, de na sombra vermos, demoramos.
E vermos na demora advém destino
de perdermo-nos de onde ainda estamos,
pensando a sombra como um outro sítio.

E, de um ao outro, haver uma viagem
é sombra ainda e invenção da hora
em que se cumpre o sonho da passagem.

Mas, passando, é sombra só, embora,
de lentamente ver, se erija aragem
o repente sem fim que ver demora.