8.4.04

Post Scriptum #196

Um poema de Herman de Coninck (Bélgica, 1944-1997), incluído em “Os Hectares da Memória”.
Uma oferta da nossa leitora Amélia Pais.


Chegou com a alegria desajeitada de uma camponesa
de quatro anos. Tem o olhar ríspido e coquette
da minha mãe de 75 anos aos quatro.
E quando essa mãe morreu, tentou
ser tão sensata que a sua cabeça
se inclinava enquanto dizia: «quando eu
morrer, hei-de chorar imenso, sabes.»

Não precisa de pai a não ser para as bonecas.
Como é que hei-de fazer, pergunto. «Sentares-te aqui
na cadeira, e leres o jornal,», disse ela. Brinca à vida,
uma horinha, e depois a outra coisa.
Ela ensina-me o que é a poesia: de um nevão
seguir apenas um floco. Com ela aquilo que quero
é sempre possível: que seja hoje.

Tradução colectiva.