“Que farei quando tudo arde?” O título do romance de António Lobo Antunes deve ter renascido na memória de quantos viveram de perto ou de longe o pesadelo acontecido nas estações ferroviárias de Madrid. Entre a possível esperança e uma mal contida revolta, foram muitas as reacções com que contactei. De entre as mensagens recebidas, sobretudo de amigos de Espanha, com quem procurei encontrar-me ainda que apenas espiritualmente, traduzo para os leitores o poema César Vallejo que me enviou Antonio Sáez Delgado:
No fim da batalha
e morto o combatente, até ele veio um homem
e disse-lhe: ‘Não morras, amo-te tanto!’
Mas o cadáver, ai!, continuou morrendo.
Acercaram-se dois e repetiram:
‘Não nos deixes! Valoroso! Volta à vida!’
Mas o cadáver, ai!, continuou morrendo.
Aproximaram-se dele vinte, cem, mil, quinhentos mil,
clamando: ‘Tanto amor, e nada podermos contra a morte!’
Mas o cadáver, ai!, continuou morrendo.
Rodearam-no milhões de pessoas,
rogando em comum: ‘Fica, irmão!’
Mas o cadáver, ai!, continuou morrendo.
Então, todos os homens da terra
o rodearam; viu-os o cadáver triste, emocionado;
voltou ao seu corpo lentamente
abraçou o primeiro homem; começou a andar…
Ruy Ventura
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