5.3.04

Post Scriptum #165

Um poema de Juan Ramón Jiménez (1881-1958), numa tradução de Nicolau Saião. Trata-se de “A Viagem Derradeira”, retirado de “Poemas Agrestes”, livro editado em 1911.

Um dos grandes líricos do século há pouco findo. Autor de “Almas de violeta”, “Árias tristes”, “Platero e eu”…
Moguer, onde nasceu em 1881, assinala essa data desde 1996 com uma magnífica exposição de arte postal, entre outras manifestações de apreço. Morreu em Porto Rico, onde se exilara por razões de civismo democrático. Em 1956 foi-lhe atribuído o Prémio Nobel.
N.S.


A VIAGEM DERRADEIRA

…E partirei. E ficarão os pássaros
cantando;
e ficará o meu quintal, com a sua árvore verde
mais o seu poço branco.

O céu, todas as tardes estará azul e calmo;
e tocarão, como esta tarde estão tocando
os sinos do campanário.

Irão morrendo aqueles que me amaram;
e a cada ano se fará novo o meu povoado;
e no tal recanto do meu quintal florido e calado
o meu espírito vagueará, nostálgico…

Eu partirei; e ficarei só, sem lar, sem a árvore
verde, sem o poço branco
sem o céu azul e calmo…

E ficarão os pássaros cantando.

Tradução de Nicolau Saião.