19.3.04

Por uma feliz coincidência, Nicolau Saião acaba de nos enviar a sua versão deste mesmo poema de Cesar Vallejo (Perú, 1892-1938).
Aqui está.


MULTIDÃO

Ao findar a batalha
e morto o combatente, veio até ele um homem
que lhe disse:”Não morras, quero-te tanto!”
Mas o cadáver, ai, lá foi morrendo.

Dois se acercaram dele, e repetiram-lhe:
“Não nos deixes! Coragem! Volta à vida!”
Mas o cadáver, ai, lá foi morrendo.

Vieram então vinte, e cem, e mil,
quinhentos mil bradando: “Tanto amor,
e não podermos nada contra a morte!”
Mas o cadáver, ai, lá foi morrendo.

Uns milhões de indivíduos o rodearam,
e todos lhe rogavam:” Fica, irmão!”
Mas o cadáver, ai, lá foi morrendo.

Então, todos os homens desta terra
vieram junto dele. Emocionado, triste,
o cadáver olhou-os;
lentamente
abraçou o que primeiro chegara – e foi-se embora…

Tradução inédita de Nicolau Saião.


Relembro ainda que existe uma ampla antologia de poemas de Vallejo em português, organizada por José Bento e editada pela primeira vez em 1981 (Limiar), com reedição em 1992 (Relógio D’Água), e onde consta este mesmo poema.