18.3.04

O Povo é Sereno #69

O GOSTO DE O OUVIR

O engº Ângelo Correia, comentador, é uma das minhas figuras televisivas preferidas. Sempre que aparece no pequeno écran para mim é uma festa: já pela maneira de falar – aos simpáticos arrancos, com paixão ou pelo menos com fervente convicção – já pelo gestualismo que nos diz estar ali uma pessoa competente mas que também vibra: aquelas repentinas paragens, as elipses espontâneas, os olhares como que perscrutando tudo em volta, desde as câmaras ao rosto expectante do interlocutor, criam em nós (em mim) o encantamento e o suspense.
Mas também gosto de o ouvir na rádio. E nesta terça-feira ouvi-o na rádio. Falava-se de terrorismo e a dada altura o senhor em causa disse uma coisa que até ali, durante meses e inúmeras intervenções não me lembro de o ouvir dizer, como que se negara a si mesmo dizer – que existe efectivamente um “confronto civilizacional” entre o fundamentalismo islâmico (que, aqui entre nós, subjaz ao Islão) e a ideia de democracia, personalizada nos países ocidentais.
Já de há muito que, em diversos lugares e cérebros, tal se percebera.
A minha admiração, portanto, não tem sido em vão. Porque apesar de um pouco atrasado o engº Correia disse-o. Ao contrário de outros (famosos filósofos de pacotilha, especialistas em generalidades pomposas e cocabichices, etc.) que só irão perceber isso quando a rocha, o pedregulho – ou seja, a bombita – lhes cair em cima das narinas.


Nicolau Saião