4.3.04

O Povo é Sereno #64

A LESTE DO PARAÍSO.

Ando cada vez mais atarantado. E o caso não é para menos…
Ao fazer um zapping fortuito no televisor, anteontem, dei com a locutora Manuela Guedes da TVI a referir em altos brados, num estilo de quem anuncia a terceira ou quarta guerra mundial…que dois cidadãos complementares - um homem e uma mulher - tinham sido inadvertidamente apanhados a praticar sexo oral (como se usa dizer com galhardo pudor), numa dependência duma escola.
A reportagem colhia declarações de rapaziada inocente (ou seja, presumo, daquela inocência que aprende que dois e dois são quatro e os bebés vêm de Paris ou mesmo do Corte Inglês). E tudo com um ar de apocalipse, de fim dos tempos (ou do noticiário).
Mas isto tudo por um simples “fellatio” (como diz no dicionário do Wendt) praticado a desoras numa dependência onde a porta ficara mal fechada?
Por isto se mobiliza a atenção padreca dum país, como se aquele homem e aquela mulher fossem criminosos primários?
Uma aluna, interrogada pelo repórter, dizia não saber bem o que se passara, mas que vira uma contínua a chorar… (A qual mais o colega na certa irá p’rá rua, para dar lugar a uma outra sem oralidades).
A rapaziada da escola, esfuziante, não parecia (que embirração!) nada traumatizada. E os tremendos criminosos teriam já sido chamados ao conselho directivo.
Com o que, vão por mim: “fellatios” só num quarto trancado a rigor. Ou na solidão absoluta dum escritório bem aferrolhado, no remanso duma sacristia bem fechada, num campo realmente desértico…
Nesta nação, moralizada pelos ministérios e bem informada pela TVI, verão que irá tudo pelo melhor.
Ou quase.

Nicolau Saião