25.2.04

Post Scriptum #156

De Léopold-Sédar Senghor (1906-2001), autor senegalês que foi o primeiro presidente da República do Senegal e um dos fundadores da “Negritude”, existe uma vasta antologia poética em português, editada em 1977, pela Arcádia, e com tradução de Luísa Neto Jorge. Mais recentemente, em 2002, o Centro Internacional de Latinidade publicou um livrinho com onze poemas traduzidos por José Augusto Seabra. Esta é a tradução de Nicolau Saião do poema de Senghor “Para uma jovem negra de calcanhar róseo”.


PARA UMA JOVEM NEGRA DE CALCANHAR RÓSEO

No céu primitivo erguem-se imaculados os cantos dos pássaros
e o fresco cheiro da erva ágil com eles se ergue, Abril.
Ouço o respirar profundo da madrugada movendo as nuvens
brancas dos cortinados
e escuto a canção do sol nos taipais das janelas
melodiosas.
Sinto como que um hálito ou uma recordação de Naett
na minha nuca apaixonada e nua
E o meu sangue cúmplice, a despeito de mim, chocalha-me
nas veias.
És tu, minha amiga – ô! Escuta os suspiros escuta
os quentes suspiros neste Abril dum continente novo
Oh escuta, enquanto deslizam, no gelado azul, as asas
das andorinhas migratórias
e não te esqueça ouvir o murmúrio negro e branco das aves
de arribação
horizontais no extremo das suas velas desdobradas.

Escuta a mensagem da Primavera duma outra idade, dum outro
mundo
Escuta a mensagem da África longínqua e velha e a canção
do teu sangue
Pois eu estou ouvindo a seiva de Abril que nas tuas veias

cantando me desafia.

Tradução de Nicolau Saião