Post Scriptum #151
Segue-se um texto de proveito e exemplo do surrealista belga Paul Nougé (1895-1967)
«Uma mulher pobre, como há para aí algumas, não podendo encarregar ninguém de tomar conta do filho pequeno, viu‑se forçada a aproximar‑se de um banco de comunhão com o menino nos braços. No instante em que o padre se preparava para introduzir a hóstia na boca entreaberta – e não é sem repulsa que convocamos aqui uma cena cuja banalidade não poderá esconder o espantoso carácter equívoco –, o menino, a quem essa coisa esbranquiçada podia ainda parecer desejável, estendeu a mão para a agarrar.
«Ninguém ignora a destreza de que um padre consegue dar mostras para evitar um escândalo exterior, e o leitor certamente já está a ver com que gesto untuoso e firme ele afastou a mão impertinente. Mas, por três vezes, o homem viu‑se impedido de alcançar os seus fins. Bom psicólogo que era, sentiu que, naquela situação difícil, teria de recorrer a algum meio mais poderoso, e, juntando ao gesto a fala que convém à mais tenra idade, murmurou ao ouvido do miúdo uma palavra de eficácia certa. «Caca» – disse o padre.»
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