Post Scriptum #141
Um poema de Elytis
Como ainda ando aqui a lutar com o poema do porto do Pireu e não consigo pô-lo em português de gente, fui à arca buscar o Elytis. Elytis, segundo prémio Nobel grego, escreveu nos anos setenta do século passado (e publicou em 1978) um poema que foi livro de cabeceira da juventude em revolta. O poema era escrito como um diálogo entre Maria Neféli (Maria Nuvem, à letra) e um Antifoneiro, que seria o poeta. É desse poema o trecho que a seguir apresento.
Maria Nefeli diz: A NUVEM Vivo dia a dia – quem sabe amanhã que sol nascerá. Uma mão minha amarrota o dinheiro e outra o alisa. Vês, é preciso que as armas falem nos nossos tempos caóticos e que estejamos até de acordo com os chamados «ideais nacionais». Por que me fitas tu escriba que nunca te vestiste de soldado a arte de fazer riquezas, é também uma qualidade guerreira. Não vás agora passar noites em claro – escrever mil versos amargos ou encher as paredes de palavras-de-ordem revolucionárias. Os outros olhar-te-ão sempre como um intelectual e só eu te amo: em meus sonhos como um refém. E se em verdade o amor é como dizem «divisor comum» eu hei-de ser Maria Nefeli e tu ai o Empilhador-de-nuvens Traça a tua marca não importa onde nem como e depois apaga-te com generosidade. |
E o Antifoneiro: O EMPILHADOR-DE-NUVENS Ah que belo é ser empilhador-de-nuvens escrever epopeias como Homero nos seus velhos sapatos não me importar se agrado ou não nada. Gozar impassível a impopularidade assim: com largueza; como se dispusesse de uma fábrica de moedas e a fechasse e despedisse todo o pessoal e conservar uma pobreza como ninguém mais tem mas inteiramente minha. Quando nos seus escritórios desesperadamente pendurados ao telefone lutam por nada os homens vulgares subir no Amor manchado mas ágil como limpa-chaminés descer do Amor disposto a construir a minha própria praia branca sem dinheiro despir-me como se despem os que conhecem as estrelas e abrir-me com grandes braçadas para chorar livremente... É bigamia amar e sonhar |
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