17.2.04

Post It #63

Estou a traduzir um ensaio de Alois Riegl, primeiro grande teórico da conservação dos monumentos. Diz a certa altura:
“Mas, mal a criação singular do ser humano ou da natureza toma forma, começa logo a sofrer a actividade destruidora da natureza, cujos agentes mecânicos e químicos tendem a decompor de novo o obecto singular nos seus elementos e a fundi-lo na grande totalidade amorfa da natureza.”
(Alois Riegls Schriften zur Denkmalpflege, p. 70)
É curioso que (embora noutro ponto afirme que a natureza, tal como o ser humano, cria entidades singulares com forma) Riegl (escrevia no princípio do séc. XX) não possa conceber a totalidade da natureza senão como amorfa. Vêm-me logo à ideia os quintais que vejo da minha janela: rectângulos bem comportados dentro dos quais as árvores e as plantas se insubordinam. Para logo pensar também: as florestas não têm forma? Claro que têm, a obra da natureza é uma criação/destruição constante de novas formas que segue as suas “leis”. As quais não têm que ser conformes com o espartilho que a propriedade privada e a apropriação privada lhe querem impor.
A faúlha da poesia só surge quando essa forma externa e a nossa forma interna se fundem por "milagre".