16.2.04

O Povo É Sereno #50

É extraordinário como os nossos instrumentos de pensamento «racional» ainda estão dominados pela mecânica (racional, precisamente) e como a nossa mente não está preparada para afrontar os problemas do presente e do futuro! Num artigo publicado no “Público” (onde havia de ser?), Salgado de Matos fala da clonização terapêutica, dizendo:

«Dentro de anos, não haverá morte: quando fraquejarem o coração, os pulmões, o fígado: o tecido doente será substituído por outro, saudável, produzido em laboratório. Este processo de substituição é susceptível de ser prosseguido sem termo: os hospitais porão no lugar de tecidos doentes outros, sãos (...) A eternidade está ao virar da esquina. O que, claro, agravará o défice da segurança social - excepto se a idade de reforma for diferida para os 17577 anos. »

Estende-se depois para outras questões de ordem ética que agora não me interessam. Interessa-me sim que ao autor nem sequer se põe a pergunta: e então como funcionará um coração de jovem num corpo de velho? É que não somos apenas uma soma de fígados, corações, etc., isto é, de peças mecânicas. Só para exemplificar: e todos os músculos e ossos envelhecidos e que têm decadência e morte marcadas nas suas células? Como reagirão a um coração sempre alerta a puxar por eles?

Teremos então de substituir todos os músculos e ossos (bem assim como o cérebro?) no ser em questão. Mas, isso é um clone total! A eternidade é então a construção de um novo ser “igual” ao antigo, mas que não vai viver as mesmas experiências e portanto é diferente. Não sei se me faço entender.

Aqui se interrompe o manuscrito.