Vai no Batalha #10
História exemplar
Sabattai Sevi viveu no séc. XVII. Nasceu em 1626 em Esmirna. Era um jovem judeu estudioso da cabala, mas por volta dos vinte anos começou a mostrar indícios de psicose maníaco-depressiva. Nos períodos de depressão escondia-se de todos e sentia-se abandonado por deus. Mas logo sobrevinham períodos de iluminação, durante os quais saía em público praticando blasfémias como invocar o nome do senhor e comer carne não kosher, por exemplo.
Em 1650 uma voz revelou-lhe que ele era o ungido de Israel, o Messias tão esperado. E o cabalista Nathan de Gaza, tendo-o interrogado, confirmou.
Sabattai Sevi foi então pelo mundo pregando a boa nova, empenhado na restauração de deus, que a petrificação da igreja judaica tornara impossível. Por onde andava incendiava as gentes que o seguiam apesar de violar constantemente as leis, abolindo os dias festivos, proclamando a igualdade das mulheres e dos homens, comendo carne não kosher, e cantando o novo lema, "aquele que permite o que é proibido".
Judeus de todo o mundo conhecido e desconhecido, da Ucrânia a Marrocos, de Amesterdão a França, vendiam tudo o que tinham para o seguir, convencidos de que os levaria à Terra Santa.
Os seus seguidores diziam que fazia milagres, que soltava uma luz da cabeça quando falava e que com o seu magnetismo quebrava a vontade dos assaltantes de estrada. Em 1665, decretou que o ano seguinte inaugurava o novo milénio e que chegara a altura de libertar o mundo dos gentios.
Com esse intuito, dirigiu-se em marcha triunfal a Istambul. Mas o sultão mandou-o prender e deu-lhe a escolher: a morte ou a conversão ao Islão. E Sabattai Sevi escolheu a conversão. Nathan de Gaza continuou a defendê-lo, dizendo que aquela era mais uma provação do Messias, que, descendo ao fundo da degradação, se preparava pois para ascender ao cimo do sublime. No fim de contas, a mesma teoria que sempre tinha advogado.
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