SHARON OLDS: DIA 2.
Segundo poema de Sharon Olds, numa tradução ainda inédita de Margarida Vale de Gato.
JOVENS MÃES I
Esse olhar atento
no rosto da jovem mãe
como um animal,
debruçando-se sobre o carrinho, levantando os olhos,
de orelhas esticadas, os olhos exibindo
o branco a toda a volta.
Assustada como um recém-nascido, olha para todos os lados.
Foi ela que empurrou, deitada sozinha sobre um leito,
suando, isolada pela dor,
apartando-se devagar. Foi ela que espremeu
o filho dentro de si. Ei-lo que jaz, separado,
abrindo e fechando a boca, as mãos
mirradas da longa imersão em água salina.
Agora a mãe é a outra,
os seios sacos duros de pedra de sal,
o leite azulado que exsuda, a sua alma
ali no carrinho, a criança que tinha dentro
e veio ao de cima, como nata,
e foi sacudida.
Agora está alerta contra a violação,
com um ouvido agudo tal veado, as pupilas
velozes, o corpo dobrado numa curva,
uma corda húmida que secou e enrijou,
uma tortura em certas culturas.
Sonha com a morte pelo fogo, morte
numa queda, morte com as tripas de fora,
morte por afogamento, morte com a cabeça
decepada. Alguém começa a gritar
e acorda-a, o bebé esfomeado
acorda e salva-a.
De "Satanás Diz", livro a editar em breve pela Antígona, com tradução de Margarida Vale de Gato.
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