SHARON OLDS: DIA 1.
Como já vem sendo hábito, iniciamos hoje mais um pequeno ciclo de poemas inéditos, desta vez dedicado à autora norte-americana Sharon Olds (n. 1942). Este ciclo marca também o regresso de um dos grandes colaboradores deste blogue: Margarida Vale de Gato. Os poemas – três – pertencem ao livro Satan Says (1980) que conhecerá uma versão em português, a editar em breve pela Antígona, e com tradução, claro está, de Margarida Vale de Gato.
Nascida em 1942, em São Francisco. Publicou oito livros de poesia, entre os quais se destacam "Satan Says" (1980), "The Dead and the Living" (1983), "The Father" (1992) e "Blood, Tin, Straw" (1999).
TEME-SE QUE SE TENHA AFOGADO
De repente ninguém sabe onde estás,
o teu fato negro como algas, o teu rosto
barbudo escorregadio como foca.
Alguém olha pelas crianças. Avanço até
à fímbria da água, agarrando-me à toalha
como um véu de viúva sobre mim.
Nenhum dos nadadores condiz.
Muito baixos, corpulentos, de barba feita,
erguem-se da ressaca, a água
escorrendo-lhes pelos ombros.
As rochas despontam junto à costa como cabeças.
A barrilha espalha-se como um fato negro esfarrapado
e não te consigo encontrar.
O meu estômago começa a contrair-se como que
para vomitar água salgada.
quando subindo a areia ao meu encontro vem
um homem que se parece muito contigo,
a sua barba eriçada como as ervas da praia, o seu fato
negro como uma concha húmida contra o seu corpo.
Aproximando-se, afinal ele
és tu - ou quase.
Quando se perde alguém nunca é
exactamente a mesma pessoa que regressa.
De "Satanás Diz", livro a editar em breve pela Antígona, com tradução de Margarida Vale de Gato.
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