21.1.04

Post Scriptum #126

Mais um grego

Se não estão fartos, aí vai. E, se estão, também vai.



Andréas Empeiríkos (1901-1975) - um (ou o principal) dos introdutores do surrealismo na Grécia. Foi também pioneiro da psicanálise nesse país. Escrevia numa linguagem muito dominada pelo katharévoussa, língua utilizada pelos gregos fanariotas (de Istambul, na Turquia) e da diáspora em geral, mais complexa e próxima do grego antigo do que o demótico falado pelo povo do continente; era também a língua oficial, administrativa. Diziam por graça, que "o inconsciente do Empeiríkos falava katharévoussa" (esta piada era por causa dos textos de escrita automática que ele publicava), o que é uma estupidez como outra qualquer: a gente fala "espontaneamente" a língua que a nossa mãe nos ensinou. Incompreendido no seu tempo, a obra dele veio depois a subir na consideração da gente literata.

A RAPARIGA

A casa está a transbordar de alegria
Como uma bilha cheia de leite ao sol
Uma rapariga à janela ocultamente
Dá os seus seios às pombas.

Repletos palpitam os seios
Espetam-se os mamilos
Titilam-nos as aves
E subitamente o leite transborda.

de "A Ternura dos Seios"


AVES DO PRUT*

10

Vou apanhar na minha rede a barca
Que me levará hoje para junto de ti.


13

Há flores que se parecem com mãos
Os seus dedos tacteiam e soltam perfume.

16

As minhas pálpebras são cortinas transparentes
Abro-as e vejo à minha frente o que calha
Fecho-as e vejo à minha frente os meus desejos.

* Prut - rio da Roménia