Post Scriptum #126
Mais um grego
Se não estão fartos, aí vai. E, se estão, também vai.
Andréas Empeiríkos (1901-1975) - um (ou o principal) dos introdutores do surrealismo na Grécia. Foi também pioneiro da psicanálise nesse país. Escrevia numa linguagem muito dominada pelo katharévoussa, língua utilizada pelos gregos fanariotas (de Istambul, na Turquia) e da diáspora em geral, mais complexa e próxima do grego antigo do que o demótico falado pelo povo do continente; era também a língua oficial, administrativa. Diziam por graça, que "o inconsciente do Empeiríkos falava katharévoussa" (esta piada era por causa dos textos de escrita automática que ele publicava), o que é uma estupidez como outra qualquer: a gente fala "espontaneamente" a língua que a nossa mãe nos ensinou. Incompreendido no seu tempo, a obra dele veio depois a subir na consideração da gente literata.
A RAPARIGA
A casa está a transbordar de alegria
Como uma bilha cheia de leite ao sol
Uma rapariga à janela ocultamente
Dá os seus seios às pombas.
Repletos palpitam os seios
Espetam-se os mamilos
Titilam-nos as aves
E subitamente o leite transborda.
de "A Ternura dos Seios"
AVES DO PRUT*
10
Vou apanhar na minha rede a barca
Que me levará hoje para junto de ti.
13
Há flores que se parecem com mãos
Os seus dedos tacteiam e soltam perfume.
16
As minhas pálpebras são cortinas transparentes
Abro-as e vejo à minha frente o que calha
Fecho-as e vejo à minha frente os meus desejos.
* Prut - rio da Roménia
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