15.1.04

Post Scriptum #120

FALA DA PRINCESA BRANCA
Rainer Maria Rilke (1875-1926)




Olha: a morte está na vida; ambas seguem
tão entrançadas, como num tapete
os fios seguem; e daqui se forma
para nós, que passamos, uma imagem.
Quando se morre, nem só isto é morte.
Morte, é viver sem saber que se vive;
morte, é ainda não saber morrer.
Muitas coisas são morte; sem o enterro.
O morrer e o nascer andam connosco
e isto sentimos como a natureza,
que dura simplesmente, sem pesar
e sem partido. A dor ou a alegria
são cores para os estranhos que nos vêem.
Por isso nos importa mais que tudo
achar o espectador que ao contemplar-nos
bem fundo nos abrange em seu olhar
e apenas diz: vejo isto ou vejo aquilo,
onde outros adivinham só ou mentem.

Fragmento de "Die weisse Fürstin"

Tradução de A. Herculano de Carvalho.
Oiro de Vário Tempo e Lugar, 2ª Ed., Asa, 2001.
Tradução de