Post Scriptum #116
Mais um poeta grego
Giórgos Markópoulos (1951-) Este poeta fala a língua do povo, a língua das cidades, isto é, utiliza o corriqueiro quotidiano, entenda-se, o linguajar do dia a dia, como arma de criação. Diga-se que estou a ter algumas dificuldades em traduzi-lo. Imaginem-se a traduzir o Assis Pacheco para turcomeno! Este não é bem Assis Pacheco (falta-lhe um pouco mais de licença com a sintaxe), mas quase. Mas olhem lá que o poema que se segue é coisa que se admire. De facto, vai tocar uma corda sensível da vivência grega, vai brincar com a guerra virtual permanente entre a Grécia e a Turquia. Na Grécia, não se brinca com estas coisas. Mas Markópoulos brinca. Tem a citação oficial como mote, e depois dá-lhe as suas voltas. Bravo, Gíórgos!
Aí vai
“Nada a recear. Em resultado de vivos protestos do Ministério dos Negócios Estrangeiros, os turcos voltaram a confinar‑se às suas fronteiras.”
dos jornais
OS TURCOS
Mas porquê, porque dizem que os turcos
se confinaram às suas fronteiras?
Os turcos passeiam‑se à vontade pelas ruas,
compram tesouras de poda, serras,
black & deckers para as oliveiras. Comem bacalhau.
Invadiram os subúrbios chiques e fizeram deles seus feudos.
Preparam armadilhas para os pássaros, fecham-se nas caves.
– Que diabo fazem lá dentro? – Põem minas.
De tarde ouvem‑se esporádicas as suas explosões
no perturbado sono dos poetas.
Os pirotécnicos
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