11.1.04

Post Scriptum #115


Ao longo dos últimos dias recebemos longas e incontáveis pressões por parte dos nossos patrocinadores, exigindo “medidas rápidas e radicais que façam aumentar de forma clara e convincente as audiências do Quartzo, Feldspato & Mica”. E em resposta aos nossos insistentes pedidos de moderação, fomos brindados com mensagens como esta: “Na guerra das audiências, caros amigos, não há lugar para acordos de paz”.
De facto, a situação da sociedade está longe de ser inteiramente risonha. A contratação milionária do Manuel Resende traduziu-se num encaixe de 123.897 novos leitores. O que ficou ligeiramente abaixo do inicialmente esperado: as nossas previsões apontavam para o número exacto de 123.901 novos leitores. De qualquer maneira, e apesar da verba faraónica envolvida na sua contratação, a entrada de Resende deu um novo e importante impulso à sociedade. Os patrocinadores, porém, não fazem a mesma leitura dos factos. Exigem mais.
Por isso, não nos resta outra alternativa senão aquela que já todos sabem. Sim, nada é mais eficaz em tempos de crise do que a pornografia. A pornografia rende visitas, faz crescer o sitemeter e os patrocinadores gostam. Em todo o caso, e porque este é um projecto sério e “de qualidade”, os nossos conteúdos de teor pornográfico estão também muitos pontos acima da vulgar pornografia de esquina e blog barato. E a melhor prova disso é o poema que agora publicamos. Adquirido directamente ao Sr. Verlaine, ilustre escritor parisiense, que, mesmo morto, continua a oferecer-nos coisas como esta.
Finalmente, aproveitamos para agradecer a preferência de todos os nossos leitores. Mesmo daqueles que nos procuram apenas pelo “vil vício” da pornografia.



POEMA 12

Éramos, no café, entre a gente imbecil,
Apenas nós os dois adeptos do tal vil
Vício de ser “pró-macho”; e com simulação
Ríamo-nos do parvo, ar de bonacheirão,
De seus amores normais, com a moral à coca.
Punhetas mil fazendo, a desbastar a moca,
À bruta, à tripa-forra, e nisso apostados,
Plo fumo do cachimbo apenas meio velados
(Assim como Hero outrora a copular com Zeus),
As nossas piças, quais pencas e Karrogheus
Assoados à mão, aprazível limpeza,
Em jactos de langonha espirravam sob a mesa.
(1891)

Paul Verlaine, Hombres e algumas Mulheres, Assírio & Alvim, 2002.
Tradução de Luíza Neto Jorge.