22.1.04

Post It #52

Mais uma para a caixa.

As caixas de comentários têm essa grande virtude: são uma espécie de segunda pele do blogue. Ou uma espécie de janela das traseiras, mais pequena e discreta, mas, justamente por isso, muitas vezes mais interessante e surpreendente do que a janela da frente (não há aqui novidade nenhuma: os voyeurs profissionais sabem isto há muito tempo).
Hoje, no Blogue de Esquerda, há mais um exemplo que, na minha opinião, confirma esta regra. Margarida Ferra publicou um pequeno post intitulado "Vinte anos é muito tempo", no qual lamenta a perniciosa influência dos livros da Anita nas crianças dos nossos dias.
Eis o texto de Margarida Ferra na íntegra:

Comenta uma mãe, maravilhada, que os livros da Anita fazem as delícias da filha, como fizeram as dela. «São histórias intemporais», conclui, «pena tê-las deitado fora.» A minha pena não vai para o destino que aquela família deu aos livros, antes para o destino daquela filha que repetirá a história da mãe. E assim por aí adiante. O que queremos mudar, quando resistimos a mudar o cliché?
(Margarida Ferra)

E este é o texto que Alexandre Monteiro, autor do excelente No Arame, deixou na respectiva caixa de comentários:

Como te compreendo... a Anita era a típica filha abusada, violada, forçada pelos pais a trabalhar nas fábricas de sapatos do Vale do Ave. E, claro, sempre me repugnou aquele hábito que a Anita tinha de masturbar página sim, página não, fantasiando com um homem que a desposasse e a levasse ao altar, entre um cigarrito de canabis e um copo de vodka bisonte, impostos pela sociedade de consumo que é tão glorificada nessa série - sempre achei que a miúda, para a idade que tinha, era um pouco avançada demais... caraças, se calhar até vota PP!
Resumindo, estou contigo. Se precisares de ajuda para adaptar a Valerie Jane Solanas para o público infantil, cá estou eu.

(Alexandre Monteiro)