Post Scriptum #97
De volta aos gregos. De todos os poetas do século XX que aqui temos publicado, os gregos são os que estão em maior número. E tudo graças à generosidade de Manuel Resende. Recordo que nos nossos arquivos encontram-se vários poemas de Kiki Dimoulá, Michális Ganas e Nikos Engonópoulos, para além de Giórgios Seféris, em versões inéditas de Manuel Resende. Hoje acrescentamos a esta lista a poetisa Jenny Mastoráki (n. 1949), ainda inédita em quase todas as línguas, à excepção do inglês. A tradução e apresentação são de Manuel Resende.
O RIO
O poema omnipotente,
como rio mítico,
barbudo,
de cartucheira à bandoleira,
vem pela rua abaixo a buzinar
enfadando as amantes.
E o poeta
por que te apaixonaste aos dezoito
já não existe,
pois existir quer dizer
tenho casa na rua kypséli
vá visitar-me no fim-de-semana
ou apresento-lhe a minha esposa.
Há uns tipos, em altos estrados,
a fazerem truques com lenços coloridos,
como outrora os charlatães
que vinham de carroça
e te tiraram o dente são
por dois taleres.
De To Soi, 1978.
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