Post Scriptum #105
VLADIMÍR HOLAN: DIA 2.
Segundo poema da pequena antologia de Vladimír Holan, traduzido por Miguel Gonçalves, a partir da versão em inglês de Dana Habova (Mirroring: Selected Poems of Vladimir Holan, Wesleyan University Press , 1985).
NEVE
Começou a nevar à meia-noite. E claro
a cozinha é o melhor local para se estar,
mesmo a cozinha dos que não dormem.
É quente, podes cozinhar alguma coisa para ti, beber vinho
e olhar através da janela para a tua amiga, a eternidade.
Para quê preocupares-te se o nascimento e a morte são apenas pontos,
e se a vida não é uma linha a direito.
Para quê torturares-te a olhar para o calendário
e interrogares-te sobre aquilo que está em jogo.
Para quê confessares que não tens dinheiro
para comprar uns sapatos Saskia?
E para quê queixares-te
de que sofres mais do que os outros.
Se aqui não houvesse silêncio
a neve tê-lo-ia sonhado.
Estás sozinho.
Poupa os gestos. Não tens nada para mostrar.
Tradução inédita de Miguel Gonçalves.
SNOW
It began to snow at midnight. And certainly
the kitchen is the best place to sit,
even the kitchen of the sleepless.
It's warm there, you cook yourself something, drink wine
and look out of the window at your friend eternity.
Why care whether birth and death are merely points
when life is not a straight line.
Why torment yourself eyeing the calender
and wondering what is at stake.
Why confess you don't have the money
to buy Saskia shoes?
And why brag
that you suffer more than others.
If there were no silence here
the snow would have dreamed it up.
You are alone.
Spare the gestures. Nothing for show.
Tradução de Dana Habova.
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