18.12.03

Post Scriptum #101

Rubrica Descubra as Diferenças.


SONETO A HELENA
Pierre de Ronsard (França, 1524-1585)

Quando velhinha, à noite, ao lume da candeia,
Sentada ao pé do fogo, escutando e fiando,
Direis, meus versos lendo e vos maravilhando:
Celebrou-me Ronsard quando não era feia.

Serva não haverá, que ouvindo vossa ideia,
Cansada do trabalho e já cabeceando,
Desse meu nome, ao som, não se erga despertando,
Vosso nome a abençoar, de louvor toda cheia.

Eu serei sob a terra e, fantasma ocioso,
Sob os mirtos, à sombra, hei-de ter meu repouso:
Sereis uma velhinha, à lareira, encolhida.

A chorar meu amor e vossa altivez vã.
Acreditai, viveu em esperar por amanhã:
Colhei, a partir de hoje, as rosas desta vida.

Tradução de A. Herculano de Carvalho.
Oiro de Vário Tempo e Lugar, 2ª Ed., Asa, 2003.



QUANDO FORES VELHA
W. B. Yeats (Irlanda, 1865-1939)

Quando fores velha, grisalha, vencida pelo sono,
Dormitando junto à lareira, toma este livro,
Lê-o devagar, e sonha com o doce olhar
Que outrora tiveram teus olhos, e com as suas sombras profundas.

Muitos amaram os momentos de teu alegre encanto,
Muitos amaram essa beleza com falso ou sincero amor,
Mas apenas um homem amou tua alma peregrina,
E amou as mágoas do teu rosto eu mudava;

Inclinada sobre o ferro incandescente,
Murmura, com alguma tristeza, como o Amor te abandonou
E em largos passos galgou as montanhas
Escondendo o rosto numa imensidão de estrelas.

Tradução de José Agostinho Baptista.
W. B. Yeats, "Uma Antologia", Assírio & Alvim, 1996.