18.12.03

O Povo é Sereno #29

Conversas de Café.

Firmino entra no café e senta-se à nossa mesa. Isto é o que ele diz.

Costumo assistir com alguma atenção ao "mui nobre e leal" debate que este blog tem promovido nos últimos tempos. É natural. Eu e o meu irmão somos vizinhos. Moramos no nº 16 da tabela aqui do lado. E como toda a boa vizinhança, de vez em quando, trocamos sal e pimenta. Hoje porém, ficamo-nos apenas pelo raminho de salsa. E a minha humilde razão é muito simples: esta discussão sobre rivalidades, 29 anos depois, já não faz sentido. O Porto já não mora em casa dos pais. Já não tem que tirar boas notas para ter a mesada, que nunca foi muita. Já não tem que pedir ao pai para entrar na conversa do jantar e dizer o que pensa. Já não tem que esperar pelo S. João para sair à noite e ter motivo para festejar. É certo que ainda mora num T1 K, voltado para um pátio interior. Mas acredito que esteja a juntar o capital necessário para um dia entrar num qualquer condomínio com piscina e ter o seu lugar ao sol. Este blog é a prova disso (desculpa o mel, ó vizinho).

De qualquer forma, e como esta também é uma discussão de afectos, aqui vai um pequeno esgar: Imaginem que eu amo apaixonadamente a minha mulher. E, naturalmente, lhe conheço todos os defeitos. Todas as manhas, os segredos de alcova. Os mesmos que me fazem sorrir sempre que acordo a meio da noite e lhe escuto a respiração. Agora, imaginem que alguém me diz que ela vale pouco. Que há melhor. Que ela, se calhar, até não sabe fazer aquilo que todo o homem gosta. Não é sofisticada. Não é suficientemente inteligente. Não usa aquele sotaque que, em algumas situações, leva um homem a ejectar-se pujantemente rumo a Vénus.
Se isso acontecesse, eu só poderia responder duma forma: "Tens razão… Olha, posso pagar-te um pingo descafeínado?"


Firmino, o Belo