15.12.03

Cimbalino Curto #49

A Feira de S. Miguel, ou simplesmente o S. Miguel, como também era conhecida entre o povo, foi uma das mais importantes feiras do velho Porto. Tinha lugar desde 1682, no campo da Cordoaria, e durava vários dias, a partir de 29 de Setembro. As barracas distribuíam-se pelas ruas à volta do campo, desde as proximidades da Torre dos Clérigos, até junto ao Hospital de Santo António, e vendiam tudo o que é possível imaginar: dos produtos agrícolas e alfaias às mais diversas quinquilharias, dos móveis de pinho aos comes-e-bebes, dos chapéus de palha aos espectáculos de variedades.
Ora, um dos personagens mais marcantes da história desta feira foi o "Domador de Peixes". Durante vários anos, pelo menos de 1734 a 1743, montou a sua tenda junto à "Árvore da Forca", no exacto local onde a Torre dos Clérigos lançava a sua sombra às três da tarde. O seu espectáculo incluía números com pequenas baleias e tubarões, e polvos desmesuradamente grandes. De acordo com alguns relatos da época, todas as tardes o "Domador de Peixes" entrava no campo da feira instalado numa espécie de carro alegórico puxado por dois enormes leões marinhos. Depois, fazia estalar três vezes o seu chicote e o espectáculo começava.
O "Domador de Peixes" foi o único verdadeiro concorrente do "Homem do Cosmorasma", outro personagem incontornável da Feira de S. Miguel. Firmino Pereira, velho cronista da cidade, deixou-nos um relato esclarecedor daquilo que era possível assistir na sua tenda: "o Homem do Cosmorasma possuía uma máquina mágica que exibia as pirâmbolas do ingito com dois camelos em baixo; a rainha de Espanha mandando afuzilar Cristovão Colombo, um dos sete sábios da Grécia; e a morte de D. Inês com o rei a tirar-lhe o coração pelas costas."
A Feira de S. Miguel foi transferida em 1876, por ordem camarária, para a Rotunda da Boavista. Acabou por desaparecer poucos anos depois.